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roleta viciada;

Às vezes, parece que a vida gosta de brincar comigo. Como se fosse uma dançarina caprichosa, me puxando pra um lado, me empurrando pro outro, sem deixar eu parar pra respirar. É um jogo estranho, meio cruel, porque cada escolha tem seu peso, mas só percebo isso depois que já joguei os dados. Parece que eu corro atrás de algo que nunca vou alcançar, e quando acho que cheguei perto, descubro que era só uma miragem.

Só que a realidade não tem pena. Ela cobra caro. Cada noite que parece eterna acaba trazendo uma manhã amarga, com gosto de ressaca, cansaço e arrependimento. E ainda assim, eu continuo, como um barco à deriva que insiste em desafiar a tempestade, mesmo sabendo que o casco já tá cheio de rachaduras.

Às vezes, penso que sou só um passageiro dessa viagem que eu mesmo inventei. Mas tem horas que sinto que estou no controle, que posso fazer escolhas melhores, traçar outro caminho. Só que aí vem aquela voz, aquela maldita voz, sussurrando: ''Mas será que vale a pena? Será que você quer mesmo sair dessa estrada?'' E, antes que eu perceba, já tô lá de novo, correndo, me jogando, apostando tudo numa roleta viciada.

Talvez seja essa a ironia. A liberdade que eu tanto prezo é também minha maior prisão. E, mesmo assim, aqui estou, abraçando o caos como um velho amigo, tropeçando nas mesmas pedras, colecionando cicatrizes que contam histórias que ninguém quer ouvir. No fundo, acho que tô só esperando o próximo capítulo, o próximo erro, o próximo salto. Porque, por mais que doa, por mais que canse, é no abismo que eu sinto a vida gritando mais alto. E, de alguma forma, isso me basta.