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Capítulo um.

Era uma noite tempestuosa, em seus mais diversos sentidos, estava bêbado demais para se lembrar como parou lá, mas a sua frente estava a imagem imponente de um templo, anuviado pela água torrencial que caia.

Adentrou o local encharcado, estava etilicamente pronto para mais um embate com Kobe, e enquanto pingava pelo carpete principal dirigindo-se ao púlpito, munido de um 38 contra o Verbo, eis que intercepta seu caminho a figura angelical de uma freira, com seus olhos celestinos destoando em seus trajes negros, os cabelos loiros perfeitamente alinhados as laterais de seu rosto e os lábios carnudos e convidativos, tão rosados quanto a primavera.

— Gavin — ela disse —, precisa de ajuda?

Ele não precisava de ajuda, seria postergar a culpa ou atribuí-la a algo ou alguém, acovardando-se da responsabilidade. Somente ele poderia se ajudar, mas não queria, estava demasiadamente imergido no mar da vida, onde retornava ocasionalmente a superfície em ríspidas retomadas de fôlego.

A mulher santa trajava um vestido negro e colarinho branco, bem ajustados aos seios que atribuíam-lhe um decote generoso. Suas pernas eram sustentadas por um salto fino, elegante, e delicadamente a barra do vestido beijava-lhe as coxas, próximo aos joelhos.

Em passos medidos, abafados pelo som da tempestade, ele encurtou a distância para a mulher imaculada, estendeu-lhe a arma de fogo e acenou-lhe um sorriso vadio. Em seu olhar triunfava um brilho inebriado e seu sorriso vestia desespero e arrogância. Virou-se e partiu, mudo como Kobe.